sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Beira do Rancho - 1ª domingueira

Após 2 reuniões, ficou definido todo o esquema do Beira do Rancho numa versão para o SESC Taubaté: talk show diretamente ao vivo, apresentado por Antonio Rodrigues – o mesmo que por 26 anos levou ao ar pela Rádio Difusora Taubaté, o Beira do Rancho para os mais distantes rincões brasileiros.

Apresentamos as nossas duplas remanescentes do período de ouro da música caipira desta cidade, e para cada uma delas o SESC convidou um violeiro de fora, e a escala de apresentação ficou assim definida:

Dia 13/7 – Patativa e Beira Rio e Du Vale convidam Zé Paulo Medeiros e seu convidado especial, Tinoco.
Dia 27/7 – João Carreiro e Mantovani e Os Caçulas convidam o Paranga
Dia 10/8 – Tamaré e Gouvêa e Valmir e Vandinho convidam Victor Batista
Dia 17/8 – Patativa e Os Caçulas convidam Noel Andrade
Dia 24/8 – João Carreiro e Mantovani e Wilson e Jociano convidam Cláudio Lacerda
Dia 7/9 – Valmir e Vandinho e Wilson e Jociano convidam Cícero Gonçalves
Dia 14/9 – Beira Rio e Du Vale e Tamaré e Gouvêa convidam Paulo Freire
Dia 26/9 – Show de encerramento com todos os artistas acima, interpretando canções do repertório taubateano.

Não podia ter sido melhor a estréia do Beira do Rancho no dia 13 de julho, com a presença do mestre Tinoco. A ansiedade tomou conta do camarim, principalmente para nossos violeiros que nunca enfrentaram grandes platéias, ao contrário de Tinoco e Zé Paulo Medeiros. Assim mesmo, o espetáculo saiu a contento e o taubateano, satisfeito com os convidados, pôde sentir na prática o que nossos veteranos produziram no auge de suas carreiras.

Confira abaixo alguns momentos do espetáculo.

Zé Paulo Medeiros, Antonio Rodrigues e Tinoco

Rodrigues, Zé Paulo Medeiros, Patativa, Tinoco, Beira Rio e Du Vale

Todas as fotos são de Shirley Santos, para o Museu da Imagem e do Som de Taubaté

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Adeus a Zé Mira

Conheci o Zé Mira quando participei da gravação, senão do primeiro, no máximo do segundo programa “Na Palma da Mão”, apresentado pelo Gabino, que ia ao ar todos os domingos pela TV Band Vale, quando o Vaccari ainda dirigia o programa.

Gravamos o Zé Mira tocando e cantando, andando a cavalo e preparando seu famoso café tropeiro. Grande figura o Zé Mira.


Soube também que é ele quem organiza um cerimonial que dá uma espécie de benção aos lutiers e suas violas feitas no curso do seu Dito em Eugênio de Melo, na oficina da Casa do Tropeiro, neste distrito. Sou aluno do seu Dito e me formo no fim do ano. Sou da turma que não terá a participação do velho tropeiro, cujo coração resolveu deixar de funcionar no dia 23 de agosto.

Tenho o livro o belíssimo livro “Nas trilhas do Zé Mira”, presente do Vaccari, da jornalista Lídia Bernardes. Uma grande reportagem primorosa, cheia de detalhes e emocionante, que inspirou o colega Gabino a compor “Nas trilhas da fazenda”, acho que homenageando o próprio Zé Mira, a Lídia Bernardes e seu livro.

Num momento em que a cultura rural valeparaibana perde um ilustre representante, também não podia deixar de mencionar o José Alves de Mira, um roceiro autêntico e como mencionou o jornal Valeparaibano: ícone da cultura caipira do Vale do Paraíba, conhecido como o último dos tropeiros.

A foto acima recebi por e-mail, como divulgação do programa “Na palma da mão”, onde estão Gabino, Zé Mira e seu filho Luiz Carlos de Mira. Me perdoe o autor da foto, que ainda não sei o nome. Mas quando estiver ao par, vou credita-la.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

48ª Festa do Folclore de Taubaté

Encerrou neste domingo 24/8/2008 a 48ª Festa do Folclore em Taubaté, na rua Imaculada Conceição, parte alta da cidade.

A rua, que já foi tema de várias teses, reportagens, documentários, filmes de ficção e até canção de Renato Teixeira, mantém a aura, mas perdeu a essência. Com isto, penso que a rua Imaculada já não comporta um evento como esse e que a festa só não consegue ser maior porque ainda está na rua Imaculada. Paradoxal? Penso que não.

A época de toda aquela pureza das manifestações que nós hoje, pessoas eruditas e sensíveis à causa popular classificamos como folclore, já passou, assim como já passaram muitas das pessoas mais representativas da rua Imaculada. O que existe hoje é um segmento da tradição, nos moldes do que acontece com a herança deixada por Mestre Vitalino em Caruaru PE, onde seus discípulos fazem exatamente como ele fazia, mas sem o peso do nome do mestre.

Então, uma festa desse porte é realizada para quê? Na minha opinião, simplesmente para dizer que Taubaté tem uma festa do folclore, mais nada.

Para mim, esta festa deveria estar acontecendo num centro de convenções. E Taubaté possui dois parques apropriados para isso: o Parque do Itaim e o Parque Ecológico Monteiro Lobato. Um local assim abrigaria stands suficientes para comportar representantes de todo o Vale do Paraíba com seus artesanatos e comidas típicas ao invés das quase folclóricas barracas de pão com lingüiça e coca-cola. Resumindo: seria uma festa do folclore para turista ver, para atrair visitantes de outros municípios e quiçá de outros Estados. Serviria para mostrar como cuidamos e respeitamos nossas tradições folclóricas e mostraria como evoluímos no resgate, preservação e propagação destas tradições. Não seria uma festa para quem não se dá ao luxo de procurar saber como e porque chegamos a 48 edições de uma mesma festa.

Digo isso porque estive na festa e me coloquei no lugar de um morador da rua Imaculada que precisa entrar ou sair com seu carro; pensei no idoso que gosta de dormir cedo ou na criança que não vai conseguir dormir enquanto não terminar a festa; também pensei naquele palco enorme atravessado na rua durante uma semana obrigando a qualquer um desviar seu caminho. Isto sem falar na quantidade de bêbados que transitam para lá e para cá, urinando na rua, xingando palavrões e jogando lixo por todos os lados.
Temos cacife para isto? Não. Esta e as edições anteriores da festa nos mostram que ainda estamos parados no tempo em que Taubaté era a Capital do Vale. Toda a festa cai nas costas da prefeitura e aí para virar compadrio é um passo. Por isso necessitamos com urgência de uma comissão ou conselho municipal de folclore, composta de pessoas dedicadas à causa ao invés dos pseudofolcloristas que colocam no mesmo balaio nossos agentes do folclore como sendo eles o próprio folclore. É como disse o Cacique, da dupla Cacique e Pajé, que gravou com Taiguara a faixa Voz operária para o disco Canções de amor e liberdade – seu último disco antes do exílio na África: não somos folclore, somos índios.

Não se trata de uma crítica negativa, pelo contrário. Faço votos para que em 2009, a comissão organizadora realize uma grande festa como trampolim para 2010 quando esperamos uma comemoração à altura de uma tradição que há 50 anos representa uma tradição maior: o folclore taubateano.

Mais uma vez tivemos a presença da primeira-dama do folclore nacional, Inezita Barroso, cantando grandes sucessos acompanhada de um coro de vozes enorme. Publico duas fotos de minha autoria para este blog. A primeira quando a primeira-dama, no final do espetáculo, agradece ao público. A segunda, para provar que o nepotismo existe e continuar forte como nunca, publico a grande artista abraçada com meu filho Helvecinho, claro, que deu a ela uma moedinha de presente.

sábado, 23 de agosto de 2008

50 anos de cantoria

Dono de uma voz poderosa, “a melhor segunda voz de Taubaté!” como dizia Anacleto Rosas Júnior no seu programa Manhã sertaneja, quando mandava os famosos “alôs” para conhecidos seus, João Carreiro completou 71 anos de idade e 50 de cantoria em pleno circo do SESC Taubaté no dia 27 de julho de 2008.

Não me canso de repetir que graças a João Carreiro e a sua prodigiosa memória para nomes, datas e fatos pude levar a bom termo a pesquisa “Beira do Rancho: panorama da música caipira em Taubaté (1944-1972)”. Carreiro trabalhou comigo no Museu da Imagem e do Som de Taubaté por quase 6 meses como segurança patrimonial, quando se aposentou.

Durante algumas conversas ele foi descortinando um universo musical que eu apenas conhecia de ouvir falar. Gravei seu depoimento para este MIS e ao transcreve-la, percebemos que o assunto era muito sério para ficar num depoimento apenas; mas a sua entrevista foi a bússola que norteou toda a pesquisa que resultou no livro de mesmo nome e no evento que o SESC desta cidade está promovendo.

Carreiro apresentou-me aos colegas que atuaram com ele no palco do Cine Odeon onde funcionava a Rádio Difusora Taubaté que transmitia ao vivo todos os domingos, as vozes nos cantadores taubateanos para todo o Brasil.

Conviver com João Carreiro me fez voltar a pensar nas coisas simples da vida, nas necessidades básicas para a sobrevivência, a amar a natureza e as pessoas como eu não tinha aprendido a amar e assim voltei às raízes onde nasci e cresci e de onde nunca deveria ter saído por causa de uma cultura alienígena que seduziu a mim e tantos outros jovens da época. Ele me fez sentir o prazer de ser caipira e a ter orgulho de minha terra e meus familiares.

Não sei o que poderia fazer para retribuir o tanto que João Carreiro já me deu. Penso que ele nem espera isso. Mas fico feliz que agora, na altura de seus 1,80m e 71 anos de idade, ele esteja recebendo a justa homenagem através de uma entidade que valoriza e promove o ser humano e suas habilidades artísticas que é o SESC Taubaté.

Parabéns ao meu amigo João Carreiro que terminou sua apresentação no SESC e correu para o aconchego da família que o esperava com churrasquinho e refrigerantes. Pois, como ele mesmo diz: “agora virei um tal de abstêmio.”

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Revivendo o Beira do Rancho

Através de uma pesquisa realizada pelo Museu da Imagem e do Som de Taubaté, que mapeou mais de 40 anos de música caipira produzida na cidade, o SESC Taubaté reconheceu o talento destes veteranos e está revivendo o Beira do Rancho nas manhãs de domingo, num misto de talk show e programa de rádio, levando ao palco alguns dos remanescentes deste período.

Através desta iniciativa – e como diria meu avô: antes tarde do que nunca – esses músicos estão sendo homenageados em vida, tendo sido tirados da condição de objetos do folclore local e elevados à categoria dos grandes artistas que sempre foram, mas nunca reconhecidos como tal.

Para não contradizer o velho e sábio ditado popular de que “o que é bom dura pouco”, este revival vai até dia 26 de setembro. Depois disso, só Deus sabe. Mas enquanto durar, estamos curtindo muito, estamos revendo amigos, chorando muito com as lembranças e nos emocionando com suas histórias de vida.

Vou mostrar algumas imagens posteriormente do que está acontecendo desde o dia 13/7/2008; ou como se diz num bom internetês: nas postagens seguintes. Por enquanto você fica com uma foto geral do que foi o primeiro encontro no SESC Taubaté e que gerou a domingueira Beira do Rancho.


Na foto estão, da esquerda para a direita, em pé na última fila: Noel Andrade, Zé Paulo Medeiros, Negão Santos, Victor Batista, Cláudio Lacerda, Sérgio Turcão, Du Vale Rio e Pedro Rubim. No meio: Jociano, Valmir, Patrícia Grecco, Renata Santos, André, Dirceu Mantovani, Antonio Rodrigues, Beira Rio e Cícero Gonçalves. Sentados: Patativa, Philaderfo, Tamaré, Shirley Santos, Luizia, João Carreiro e o autor deste blog.
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Por outro lado, não vou desmerecer de forma alguma o trabalho da prefeitura de Taubaté através da Secretaria de Cultura que há muitos anos promove eventos com a participação destes e da nova geração de intérpretes dos chamados sertanejos, nos encontros que aqui chamamos de “roda de violeiros”. São vários, e também alguns festivais.

Roda de violeiros no coreto da avenida Vila Rica. Foto: Helvécio Freitas

A mais famosa dessas rodas é realizada semanalmente (sempre aos domingos) no coreto da avenida Vila Rica, no bairro da Estiva, apresentada pelo incansável Benê Freitas, o herói do sertão, e organizada pelo seu fiel escudeiro Mário Conrado. Mas esta é assunto para outro tópico. Por ora é só.
Benê Freitas e Mário Conrado numa foto de Helvécio Freitas

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Beira do Rancho

Tenho razões para acreditar que Taubaté abrigou um celeiro de compositores e intérpretes de música sertaneja de raiz, somente comparável ao que aconteceu na capital paulista, sem guardar as devidas proporções. Isto aconteceu graças à intervenção de duas rádios taubateanas: a Cacique e a Difusora.

A primeira porque proporcionou aos cantadores da terra de Lobato um lugar ao sol, dando-lhes horário especialmente destinado a este fim, através do programa Vozes do Sertão, criado e apresentado por Benedicto Oliveira Meirelles, em fins do ano de 1950. A segunda porque elevou o status destes cantadores à categoria de artistas da música raiz, incorporando-os ao cast da emissora, pagando-lhes cachês e fazendo-os serem ouvidos nos mais distantes rincões brasileiros, conforme atestam as centenas de correspondências recebidas por eles durante os anos do programa Beira do Rancho, vindas de quase todos os estados da Federação. Portanto, o programa Beira do Rancho, criado por Silva Neto (gerente da emissora) e Alfeu Mantovani (apresentador do programa Sinfonia da Terra), que foi transmitido semanalmente pela Rádio Difusora Taubaté por mais de 30 anos, até hoje é referencial de música de raiz de qualidade produzida nesta cidade.

A Rádio Cacique, através do programa Vozes do Sertão foi a pioneira na implantação de um programa de auditório voltado para o público da música de raiz. Instalada na rua Visconde do Rio Branco, sua platéia comportava perto de 150 cadeiras e a potência da emissora era de 100 watts, o suficiente para angariar para a Cacique muitos pontos na audiência, fazendo com que o Vozes do Sertão – inicialmente transmitido aos sábados a partir das 20h, fosse levado ao ar também aos domingos no mesmo horário.

Foi este programa que permitiu o surgimento dos futuros compositores e intérpretes que escreveriam seus nomes na história da música taubateana, como Zé Cocão, Tapajó, Zé do Cais, João Catossi, Sabará, Tião da Mata, Zé do Campo, dentre outros.

Fotos:
Acima, a esquerda: Silva Neto, gerente da Rádio Difusora Taubaté por mais de 40 anos. Foto de Horton Cunha. Abaixo, Alfeu Mantovani, radialista e intérprete de música raiz. Foto do acervo de Paulinho Mantovani.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Apresentação

A todos que curtem, pesquisam, resgatam e difundem a música paulista, principalmente a caipira, cordiais saudações!
Pretendo compartilhar com você, um pouco do que vivi e aprendi nos mais de 3 anos que venho pesquisando a música caipira em Taubaté.
Trata-se de pequena e tardia homenagem prestanda aos remanescentes de um período muito próspero para este gênero musical nesta cidade.
Até então, estes remanescentes nunca tiveram o reconhecimento que merecem, por razões que a própria razão desconhece. Talvez tivessem sido estes artistas genuínos outra coisa senão caminhoneiros, coletores de lixo, guarda noturno, garis, etc., certamente a história de vida desses músicos e compositores teria sido outra.
A música caipira taubatena nunca mereceu um estudo histórico ou historiográfico e, portanto, encontra-se desconhecida do publico intelectual desta cidade. Mas convivendo com estas pessoas, percebi que ninguém cantou melhor a sua terra natal do que eles. Todo fato de relevância para a cidade foi transformada em cururus, modas-de-viola, toadas e cateretês.
Mas a consagração pública tardou mas não falhou. O SESC Taubaté decidiu reeditar o Beira do Rancho, o mais famoso e longevo programa de auditório voltado para música de raiz; e está levando para o palco, alguns remanescentes que você terá a oportunidade de conhecer posteriormente.
Abraços fraternais a todos.